quinta-feira, 6 de junho de 2013

sala vazia

eu costumava ser uma pessoa tão organizada e metódica... queria saber quando foi que começou o processo que me transformou no extremo oposto disso (quem aí quer apostar em depressão na pré-adolescência?)
meu nível de desorganização já chegou há anos no cúmulo de me fazer ter tanta memória quanto um peixinho dourado. acontecimentos do meu cotidiano, não importa o quão importantes possam ser, raramente permanece na minha mente por mais de um dia inteiro, que dirá permanecer no meu subconsciente. eu me sinto tão incapaz e patética por conta disso que nem ao menos procuro ajuda, mesmo porque duvido que exista ajuda para algo assim. que ridículo não deve parecer deixar a vida tão desorganizada que nem as próprias lembranças conseguem persistir a toda essa bagunça. parece bem ridículo para mim.
além de isso fazer todo progresso meu surgir depois do triplo do tempo necessário, acho que o maior problema é passar a impressão errada para as pessoas. me pedem um copo d'água e eu viro a esquina, esqueço e não volto nunca mais: essa menina só pode ser retardada. me contam detalhes importantes (às vezes até confidenciais) da vida e eu não me lembro quando comentam sobre eles novamente: ela não deve ter dado a menor importância pro que eu disse. faço promessas que jamais chegam a ser cumpridas: ela fala por falar, não tem palavra.
eu entendo que achem isso tudo, de verdade, porque eu também pensaria assim se estivesse no lugar deles. a questão é que eu, e somente eu, sei o quanto eu dou valor para tudo que me pedem, me confiam, me confidenciam, mas sou incapaz de memorizar. costumo dizer que não me recordo de acontecimentos específicos, apenas de sentimentos, e acho que isso seria o melhor resumo das minhas lembranças dos últimos dez anos. é terrível não conseguir se lembrar nem ao menos de um borrão dos possíveis acontecimentos mais importantes da sua vida, e como eu queria saber se existe uma forma de não ter que viver com esse projeto de amnésia para sempre... me acostumei a conviver com o medo constante de perder as poucas lembranças ainda vívidas dos últimos doze meses, mas, francamente, não sei quanto espaço ainda tenho em mim para novos medos.
outra consequência da falta de memória é esquecer de fazer coisas importantes para mim mesma: remédios, exercícios, consultas, estudos, telefonemas, todo tipo de providência importante que eu precise tomar na vida. tudo isso acaba sendo negligenciado, e eu acabo negligenciando a mim mesma, o que me leva a pensar se isso não seria mais uma modalidade de autossabotagem. afinal, eu sempre me sinto tão culpada por tudo, seria natural que eu quisesse, mesmo que inconscientemente, me punir de alguma forma. talvez eu esteja minando constantemente meu próprio progresso inexistente e tenha entrado nesse loop infinito há tanto tempo que a saída exista e eu não a consiga enxergar mais.
culpar a falta de memória para tudo que eu faço de errado na vida parece a saída mais fácil, sei disso... quem me dera que fosse. na verdade, deve ser só mais uma forma de culpar a mim mesma.

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