nossos pais não enxergam isso. ok, talvez ninguém mais enxergue, mas eu enxergo. eu sei o padrão de comportamento dela e sei com que discurso ela pode ser conscientizada sobre como e quando mudar. é um processo lento, ninguém muda da noite pro dia e muitas mudanças requerem mais de um ano pra surgirem, isso é natural do ser humano. mas né, muito mais fácil reclamar que ela não está tentando.
porque aqui em casa existe essa característica que, na verdade, é um problema: meus pais têm para si que somos uma família comunicativa e que isso é muito saudável. não é bem assim que a banda toca. comunicação é bom, mas discutir no mínimo uma vez por semana sobre o mesmo assunto sem esperar pelos resultados e pelas mudanças... bem, aí é só estupidez mesmo. para eles, isso de conversar, terminar magoados mas agradecendo por podermos ter falado abertamente sobre os problemas etc etc é uma coisa muito boa, quando na verdade só faz impedir que feridas cicatrizem e obstáculos sejam finalmente superados. experimentem reclamar sobre um problema intrinsecamente relacionado à insegurança de uma pessoa, dando dicas de como melhorar e dizendo que não vão fazer cobranças, só esperam que dê tudo certo; daí esperem uma semana (no máximo) para reclamar de que nada foi feito, nenhum resultado está surgindo, a pessoa está fazendo corpo mole, não está tentando de verdade, nunca vai mudar (repita essa frase incansavelmente), sempre vai viver do mesmo jeito errado; esperem os resultados.
o único resultado é uma pessoa mais insegura de si a cada nova discussão, gradualmente mais incapaz de lidar com os próprios problemas. é esse o método super eficaz
digo isso muito mais por observação do que por vivência, já que o alvo principal das críticas sempre foi minha irmã. posso afirmar que já não resta nela quase nenhuma auto-confiança, tanto por uma tendência própria à auto-depreciação quanto por essa rotina passivo-agressiva dos últimos anos.
não que eu esteja vilanizando nossos pais, não é isso também. eu os amo, eles nos amam também e tentaram nos criar da forma que lhes pareceu mais correta, e em quase todos os aspectos foram bem-sucedidos. mas no aspecto da liberdade de expressão eles falham desde o primeiro momento em que nós duas começamos a expressar nossas opiniões (o que não foi nada precoce, só começou a acontecer por volta dos meus 16 anos e 18 dela). e argumentar sobre isso, apontar as falhas deles, é impossível, não existe espaço pra retórica aqui.
torço pra minha irmã conseguir ajeitar a própria vida e sair dessa casa. enquanto isso faço o possível pra virar uma pessoa autossuficiente e fazer o mesmo. família dona da verdade só nos finais de semana, pelo bem maior.
(sim, escrevi enquanto ouvia o berreiro no quarto ao lado