terça-feira, 20 de março de 2018

o peso das consequências

dia desses, comentava com minha irmã sobre um dos vários aspectos da minha ansiedade: ou estou sempre em modo de alerta - aquela sensação de perigo iminente, mesmo sem sinal algum de perigo real - ou estou "despreocupada", que é quando consigo ignorar a sensação - não significa que ela vá embora, porque não vai. nunca vai.
e de onde vem a sensação? por que sinto constantemente que algum ruim está prestes a acontecer? e o que tenho com isso? não é como se eu sempre pudesse fazer algo a respeito dos problemas que surgem ao meu redor.
ontem eu entendi um pouco melhor: sinto (acho que todos devem sentir, mas nunca sei quando me usar como parâmetro) que tudo é responsabilidade minha. quando digo "tudo", quero dizer tudo mesmo. sinto sempre o peso das consequências do que fiz e deixei de fazer, mesmo que nem sempre pense necessariamente nessas coisas feitas ou não feitas. portanto, o que acontece comigo é resultado das minhas escolhas e o que acontece aos outros próximos a mim também deve ser resultado delas. é sempre culpa minha.
mas eu sei que nem sempre é culpa minha. sei com a cabeça, com a razão. mas a ansiedade não é lógica, não é racionalizada, ela é sentida. toda vez que tento usar a razão pra justificar meus medos e anseios, meu desespero, meu desamparo, as coisas não se conectam, não se justificam. mas eu sinto. naturalmente, se eu sinto, me parece verdade (bobagem, eu sei).
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nos últimos meses, estive "despreocupada". me desliguei do pânico, da sensação de tragédia prestes a acontecer, e escolhi passar meus dias alheia. é leve, sabe? é bom. quase como se eu estivesse seguindo um caminho certo na vida.
é também uma farsa.
como se, dia após dia, eu visse uma sujeira e jogasse pra debaixo do tapete. pouco a pouco, esse tapete foi cobrindo cada vez mais coisas. e eu escolhi continuar fazendo isso. escondendo a sujeira de mim mesma. out of sight, out of mind, certo? mas nunca está realmente out of mind pra pessoa ansiosa (ou pra pessoa consciente, mas ainda não sei se posso realmente me considerar uma pessoa consciente). vai ficando cada vez mais difícil ignorar o relevo do tapete. ele está deformado, aquele calombo não é característico dele, eu sei exatamente o que há embaixo. afinal, fui eu que coloquei lá.
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semana passada, fiz a escolha consciente de voltar ao estado de preocupação. já voltei aos tremores, à palpitação, à vontade inexplicável de chorar, a uma dificuldade estranha para comer. pelo menos é um estado familiar (aquela mania de justificar o ruim com um lado bom, embora irrelevante).
mas existe um lado bom real, que é o do enfrentamento. acho que basta ler uns três posts aleatórios daqui pra perceber o quanto eu detesto o confronto e o quanto eu o evito. mas há tempos venho me preparando pra mudar. mudar nunca é uma escolha programada, ou é? mas a ilusão é boa, e eu me iludo tentando me preparar pra virar tudo pelo avesso.
"um dia, vou fazer diferente"
"um dia, isso não vai mais me afetar"
"logo, logo, isso não vai mais doer"
todos os dias alternando o anseio e o medo pela mudança, pelo "um dia" (especialmente pelo "logo").
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desde que percebi que uma das coisas que me prendem aqui, nesse ponto da jornada em que estacionei, era meu medo pela minha irmã, pude enxergar mais longe. tanto para trás como para frente. tanta coisa fez sentido. e ainda assim não consegui sair de onde estou.
hoje me veio um estalo. e se ela quiser vir comigo? se eu estender minha mão, fazê-la enxergar o que eu enxergo, será que ela vai querer vir junto? qual o tamanho do perigo em que eu a coloco? e o quanto dele é aumentado pelo meu próprio medo e pela minha ansiedade?
mais importante ainda: vale a pena pra ela como vale pra mim?
virar tudo pelo avesso nunca deixou de ser um plano, eu só fiquei adiando. e adiando. e adiando. por vezes, por causa dela, por vezes, por mim mesma (no fundo, no fim das contas, sei bem que sempre foi por mim mesma)
será que um dia vou me iludir a ponto de me sentir pronta pra enfrentar o peso das consequências?
(é uma pergunta retórica. tenho certeza de que vou. o "logo" vai virar "amanhã" e eu sei, eu sinto, que vou  conseguir enfrentá-lo)