segunda-feira, 13 de junho de 2022

caminhos aos quais o Senhor me levou

- voltar pra Medicina

- Cristo

- meu batismo

- Pediatria

- canto

- carreira de professora...? (veremos)


(vou continuar atualizando essa lista)

like a scanner, darkly

 o acaso me relembrou da existência desse blog, e não poderia ter sido em momento mais oportuno.

quando cheguei aqui, foi uma sensação mista de familiaridade (só fiquei longe por uns 2 anos, mais ou menos...?) e de estranheza, porque não é como eu sou. aqui é como eu fui.

e como eu fui? através posts que reli quando voltei, me reconheci de uma forma que não lembrava mais. ao mesmo tempo, percebi como o recorte registrado aqui de quem eu era até então era só isso: um recorte. um recorte muito íntimo, mas impreciso como retrato.

...

como costuma acontecer, estou num mês temático (geralmente, os temas que surgem na minha vida - será que na vida de todo mundo também? - são semanais) e o tema é: identidade. ando mais reflexiva, notadamente mais introspectiva, tentando me enxergar melhor a cada momento, cada gesto e cada palavra que decido proferir. me contemplo, me analiso, procuro ver nos detalhes e nos vazios quem está ali.

logo eu, que achava que me conhecia tão bem.

e hoje, que parei pra me olhar de novo - olhar de verdade - me vejo de forma imprecisa, algo distante...

da mesma forma que Paulo descreve seu confronto com a identidade de Deus, assim me confronto:

"porque agora vemos como por um espelho, de modo obscuro, mas depois veremos face a face. agora conheço em parte, mas depois conhecerei plenamente, assim como também sou plenamente conhecido" (1 Coríntios 13:12)

o quanto de mim eu consegui enxergar de fato até hoje e o quanto disso permanece? quem eu sou hoje carrega o quanto de quem eu já fui? quais partes do que eu vejo são realmente eu? existe uma régua ou algo que me mostre isso com precisão? e isso seria realmente necessário?

...

assim como o barco de Teseu, eu vou mudando de pouquinho em pouquinho - uma tábua nova aqui, um reparo ali, novas velas, pintura nova, um buraco tapado - e, ao longo dessa jornada, não sei dizer o quanto resta de quem eu era nem o que torna esses pedaços novos parte do eu. o que sou eu?

interrogações demais nesse texto. tá aí algo que eu ouvia muito desde pequena "você pergunta demais, o tempo todo" e eu adorava ser assim. as perguntas me abriam portas, minha sede de conhecimento (como de toda criança, naturalmente) me levava a saber cada vez mais, o que me dava vontade de perguntar ainda mais, e esse ciclo se perpetuava.

e hoje, enquanto busco olhar bem fundo pra esse espelho obscuro, procuro por esses pequenos fragmentos pelos quais eu me defini um dia: ainda sou "perguntona"? sou criativa? sou convencida? sou linda? sou inteligente? obviamente, continuo perguntona, mas (ironia das ironias) só fui me dar conta escrevendo aqui, agora.

ainda funciono à base de perguntas e mais perguntas, mas como eu não tinha notado isso? talvez tenha passado a procurar com um olhar mais enviesado quem eu achava que era. e, se era enviesado, o quanto da pessoa que enxergo é fidedigno?

...

o que tenho até agora:

- sou muito observadora (o que não necessariamente implica saber deduzir a partir do que observo)

- minha natureza é reservada, e sair disso artificialmente tem me trazido um desconforto enorme - desconforto que não justifica o conforto dos outros, já que ninguém sai de fato ganhando com isso

- desaprendi o prazer de me habitar (e desconfio que isso foi aprendido)

...

talvez não seja exatamente como olhar através de um espelho obscuro, mas mais como um lago profundo, de águas negras. há um medo (imagino que natural de todo ser humano) do que habita naquelas águas impenetráveis aos olhos nus: qual a profundidade daquele corpo d'água e o que ele abriga? ao mesmo tempo, há uma curiosidade, uma expectativa irremediável no mesmo sentido: qual a profundidade daquele corpo d'água e o que ele abriga?

faz tanto tempo que eu não me conheço.