sábado, 27 de maio de 2017

sobre abrir os olhos

já dizia o sábio Sandijúnior:
"abri os olhos, não consigo mais fechar
assisto em silêncio até o que eu não quero enxergar"
numa dessas sequências aleatórias de acontecimentos, caí inesperadamente num grupo do reddit para filhos de pais narcisistas. fiquei interessada pelo título, simplesmente porque nunca tinha visto essa definição antes e não conseguia nem imaginar o que poderia ser um pai narcisista.
lendo os comentários e dúvidas dos membros do grupo, fui identificando muito das minhas próprias questões, comecei a desconfiar que talvez eu já soubesse empiricamente da existência de pais narcisistas. procurando as definições, cheguei à conclusão de que sou filha de uma mãe narcisista e um pai permissivo (chamam nos grupos de narcissistic mother/Nmother e enabler father/Efather, respectivamente).
já cultivo há um bom tempo uns sentimentos negativos (decepção, ressentimento etc.) por eles, mas acreditava que eram fruto apenas da convivência prolongada...afinal, que relação entre pais e filhos se mantém estável até os 27 anos, né? a questão é que, lendo sobre a criação narcisista e o impacto que isso tem na vida dos filhos, eu entendi o quanto eu fui moldada por isso. eu sou uma vítima e minha irmã, mais ainda.
obviamente, o plano é (já há alguns anos) sair de casa o quanto antes, mas só hoje entendo que o jeito que eu fui tolida emocionalmente é o grande motivo pra eu ter demorado tanto a não só enxergar essa necessidade, mas também conseguir direcionar minha vida sem culpa a esse fim.
hoje eu sinto tristeza quando consigo identificar cada sinal do controle que eles têm na minha vida, na minha personalidade, nas minhas inseguranças. sinto raiva quando enxergo, enfim, que muito do que eles chamam de "preocupação por mim", é na verdade preocupação por eles mesmos, que vão perdendo o controle sobre mim e não aceitam o fato de não conseguirem mais controlar quem eu escolho ter na minha vida.
bom, eu escolho quebrar o ciclo vicioso. em 2018 vou finalmente me formar, e daí em diante ninguém mais me segura nessa casa, nessa bolha tóxica que tem me adoecido por todos esses anos. se for pra conviver com o ressentimento deles, tudo bem. contanto que seja mantida distância, vou ficar bem. hoje eu vejo isso.